Uma mudança inesperada de perspectiva {Pedro Capello}

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Todas as noites, vou até o fundo da cozinha, em diversas ocasiões, para fumar um cigarro. Uma das coisas mais incríveis de Copacabana são as grandes áreas comuns que se formam da junção dos fundos de seus vários prédios grudados uns nos outros. Não se trata de uma área de convívio, mas de observação. Janelas que dão para outras janelas, quartos de onde se podem ver cozinhas, salas de estar e pequenas varandas povoadas por roupas penduradas nos varais.

Eu não moro em Copacabana, e sim no Leme, mas esta qualidade arquitetônica também existe por aqui.

Do fundo da cozinha, acostumei-me a acompanhar momentos banais de outras vidas. Da minha janela indiscreta, descobri personagens como o senhor habituado a passar horas em frente à tevê, até altas horas da madrugada, a jovem de vinte e poucos anos que mora com a mãe e usa com freqüência o banheiro da cozinha, o rapaz solteiro cujo violão permanece o tempo todo encostado na parede, sem ser tocado, e recebe visitas ocasionais de duas ou três moças diferentes.

O prédio dele é o que mais me chama a atenção, devido ao singular colorido de suas janelas. Cada andar conta com diversas iluminações únicas, do lilás chamativo composto pelas cortinas sempre fechadas daquele apartamento próximo ao térreo à luz estroboscópica dos filmes de ação que, imagino, passam eternamente naquele lar situado no longínquo décimo segundo andar.

O tempo me acostumou a fumar sempre no escuro. Munido de um sentimento de proteção, acompanhava a vida dos outros discretamente a partir da minha torre panóptica particular.

Mas isso – esse sentimento – não existe mais.

Certa noite, segui os mesmos passos de sempre – o procedimento é o mesmo há anos: entro na cozinha, fecho a porta com delicadeza, sirvo-me um copo de coca zero, vou até a janela e acendo meu cigarro. Nada demais acontecia naquela madrugada, e até o senhor da tevê já havia ido dormir (gosto de pensar que ele não tem uma vida social das mais agitadas). Estava concentrado, provavelmente no trabalho que aguardava o meu retorno, quando algo me distraiu.

Na janela abaixo do rapaz do violão, uma luzinha avermelhada e de movimentos limitados atraiu meu olhar. Apertei os olhos e logo vi que se tratava de uma brasa de cigarro.

Outra pessoa fumava à janela, no escuro, como eu.

Fiquei acompanhando aquele pontinho de luz dançante durante minutos e, mesmo depois que o segundo vigilante noturno terminou de fumar, permaneci concentrado em sua janela. Teria ido embora? Ou continuava lá, à espreita, acompanhando os movimentos do meu cigarro? Ou ainda: teria sido a minha presença uma surpresa também para ele, ou ela?

Fiquei por lá ainda alguns minutos após a coca e o cigarro acabarem, pensando. Vigiando. Ainda me pego aguardando o seu retorno, de vez em quando, mas o outro fumante parece ser mais furtivo do que eu. Pode ser, inclusive, que tenha sido apenas um visitante, que nunca mais voltou àquele apartamento. Mas bastou um cigarro para que mudasse o meu ritual. 

Hoje, até me permito, às vezes, fumar com a luz acesa.

Acabo de voltar de mais uns tragos. Uma madame chegou da rua com seu cachorro, um poodle, pelos fundos do prédio ao lado.

Uma mudança que não chega{Jana}

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Irritação

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Está tudo errado.

Tudo. A verdade é essa.

A semana desmorona em dias de revolta.

Você, paga o que me deve.

E você, não, eu não vou te cumprimentar.

Nasça e morra e seja feliz assim.

O azar é seu.

Uma foto {Pedro Capello}

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Onde passa o rio [uma mudança de ritmo]

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A veces llegaba un extranjero, alguien que se deslizaba entre los autos viniendo desde el otro lado de la pista o desde la filas exteriores de la derecha, y que traía alguna noticia probablemente falsa repetida de auto en auto a lo largo de calientes kilómetros. (La autopista del sur, Julio Cortázar)

Uma mudança que você já presenciou {Bel}

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Uma mudança inesperada {Bel}

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Mudei. Continuo querendo sal, mas ando pensando em açúcar.

O que é imutável {Gustavo Guimarães}

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Apenas a mudança é imutável.
Apenas a variação é universal.


O que é imutável {Pedro Capello}

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Momentos parados no tempo.

Uma mudança de temperatura {Pedro Capello}

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Daí eu fiz.

E mais uma mudança de ideia {Pedro Capello}

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Nunca foi (im)possível. E o tempo dirá.

Outra mudança de ideia {Pedro Capello}

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Foi uma indireta. E retiro o que disse:


Porque era uma coisa boa, e nova, na minha vida.
E foi quando eu acreditei que o velho é que era bom que eu me machuquei.

Uma mudança de ideia {Pedro Capello}

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Mudar de ideia e assumir um erro pra quê? Admiti-los (os erros) e depois não assumi-los é o que dá essa impressão de que se é íntegro, perfeito.

Ora, não vamos poupar elogios: perfeitamente íntegro, isso sim.

Vamos, então, apresentar os fatos tais quais o são: erros, nunca houve. Não vamos também fingir que não há qualquer política envolvida na questão, pois tudo se trata da mais alta diplomacia. Conveniência, para que não sejam necessários quaisquer esforços.

Pessoalmente, acho brega, datado, out of place não querer mudar de ideia. Mas quem sou eu pra julgar?

Sejamos cafonas, portanto!

A verdade é que, na geopolítica da minha vida, você é minha Nagasaki. Não leve a mal, mas é que quem nasce para Nagasaki não chega a Hiroshima. O seu potencial é esse. E acabou.

Vê? Vê como me alimenta? A sua fissão faz a minha fusão... e agora só isso importa.

Uma mudança de corte {Pedro Capello}

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E de shape também.

Essa nossa amizade bonita

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Vamos combinar uma coisa.

Eu sou seu amigo, quando preciso. Quando você precisa, não me interessa. O que me interessa é ser seu amigo pra poder falar mal daquele outro - o seu outro amigo.

Não, não. Não me interessam seus problemas. Eu sei que não estou aqui pra você o tempo todo. Pelo contrário, só quando eu quero mesmo. E eu sei que a gente não se fala sempre, mas eu sou seu amigão, adoro me confidenciar com você. Sabe o que aquele outro fez? O seu "melhor" amigo, sabe o que ele fez?

Ele é louco.

Ah, ele não te falou nada? Viu? Viu como eu sou seu amigo? Estou aqui te contando em primeira mão, poxa! Legal, né? Sou seu amigão. Quando preciso, eu sou.

Então é isso.

Estava precisando ser seu amigo agora, usar essa nossa amizade bonita pra alguma coisa. Agora, com licença, vou lá.

Quando eu precisar, te procuro pra ser seu amigão de novo.

Até.




Chega mais, me dá um abraço, queridão!

 

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